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Constipação intestinal - e agora?

Por Dra. Barbara Fonseca Gazzinelli (09-06-2018)

Constipação é uma condição comum tanto na população pediátrica como nos adultos, e acarreta sérios prejuízos para o indivíduo e sua família. Apesar disso, elevado número de casos permanece não detectado! Muitas vezes os pais não sabem que o padrão de evacuação dos seus filhos é alterado, e podem considerar o “intestino preso” como normal. Mas é necessário o diagnóstico precoce e acompanhamento regular. A constipação é a principal queixa em 3 a 5% das consultas pediátricas e em mais de 25% das consultas em gastroenterologia pediátrica.

 

Em aproximadamente 95% das crianças com constipação, nenhuma causa orgânica pode ser identificada. Essas crianças sofrem de constipação FUNCIONAL (CF). Nos demais casos, a constipação tem causa orgânica, como transtorno metabólico ou endócrino, anomalias anorretais, doenças neuromusculares ou doença de Hirschsprung.

 

A constipação caracteriza-se por fezes duras e/ou grossas (que muitas vezes entopem o vaso sanitário), dor ou esforço para evacuar, comportamento retentivo, incontinência fecal (a criança que suja a roupa intima com escapes de fezes), frequencia evacuatória reduzida (a criança ficas dias sem evacuar) e, frequentemente, é acompanhada por dor abdominal.

 

A "manobra de retenção de fezes" é típica, mas pouco reconhecida por pais e pediatras, e pode manifestar-se com todas ou algumas das características descritas a seguir: a criança fica na ponta dos pés, segurando as pernas e nádegas rigidamente, e muitas vezes balança o corpo para frente e para trás, segurando ou se escondendo atrás ou debaixo de um mobiliário, grita e apresenta sudorese e face “vermelha” decorrentes da força contrária (retentiva). Esse quadro é reconhecido pelos pais, erroneamente, como uma tentativa de defecar, quando na verdade a criança está realmente tentando evitar a evacuação.

 

Com o tempo, esse comportamento de retenção torna-se uma reação automática, ou seja, eles não percebem. Em cerca de 30% dos casos, as fezes líquidas do cólon proximal podem, periodicamente, escapar pelo reto, involuntariamente, dando origem à incontinência fecal ou escape fecal. Às vezes essa incontinência fecal é confundida ou mesmo tratada como diarreia, tanto pelos pais como pelos pediatras, devido à frequência aumentada dessas “evacuações líquidas”. Estabelece-se um ciclo vicioso que precisará ser interrompido durante a abordagem terapêutica.

 

Esses sintomas podem ter impacto significativo sobre o bem-estar de uma criança e sua qualidade de vida. Além disso, significativa proporção de crianças com CF sofre também de problemas psicológicos (hostilidade e agressão, baixa autoestima, instabilidade emocional).

 

Há vários fatores de risco para o desenvolvimento da CF, tais como: história familiar, estresse emocional (mudança de escola, separação dos pais, perdas na família), sedentarismo, baixa ingestão de fibras, excesso de ingestão do leite de vaca para a idade, refeições irregulares, posição inadequada para evacuar, ir para creche com idade inferior a 24 meses, entre outros.

 

O diagnóstico é principalmente clínico, e, na maioria das crianças, não são necessários exames complementares.

 

É importante lembrar que bebês nos primeiros meses de vida podem apresentar um intervalo entre as evacuações de alguns dias (pode chegar até a 10 dias), sem ser portador de constipação intestinal, desde que as fezes sejam amolecidas, pastosas, sem a presença de sangue e dor ao evacuar.

 

O tratamento envolve vários elementos: orientação aos pais, treinamento do uso do banheiro, ingestão adequada de fibras e líquidos, atividade física, e tratamento farmacológico. Em geral, o tratamento é longo, podendo durar meses ou anos.

 

O tratamento farmacológico para CF consiste no uso de laxantes, sendo os osmóticos a primeira escolha, e envolve três etapas: desimpactação, tratamento de manutenção e “desmame”. As opções terapêuticas e as doses recomendadas são de responsabilidade do pediatra ou do especialista gastroenterologista pediátrico. Os pais não devem dar laxantes e supositórios sem orientação médica. Algumas vezes, é necessária a realização de lavagem intestinal (clister) na presença de fecaloma (impactação de massa de fezes no reto).

 

Referencias:

  1. Hyams JS, Di Lorenzo C, Saps M, Shulman RJ, Staiano A, van Tilburg M. Functional disorders: children and adolescents. Gastroenterology. 2016; 150:1456-68.

  2. Tabbers MM, DiLorenzo C, Berger MY, Faure C, Langendam MW, Nurko S, et al. Evaluation and treatment of functional constipation in infants and children: evidence-based recommendations from ESPGHAN and NASPGHAN. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2014; 58:258-74.

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